segunda-feira, abril 21, 2008

Pra que nos incomodarmos se é a vida que faz suas proprias escolhas?

O que seria acordar de manhã, passar pela porta do quarto dos meus pais e saber que eles não estão lá?
A casa vazia sem os gritos da minha irmã...
Ou pior, deixar de morar nessa casa que tanto sonhamos em morar, demoramos pra construir, cheio de altos e baixos os anos e meses que passavam enquanto planejávamos nossos sonhos, um jardim enorme onde os cachorros pudessem correr, um futuro campo de futebol, piscina, cada um com seu quero e varanda, as cores das paredes, os azuleijos de cada banheiro, sonhando e observando a vista da varanda, coisas que somente meu pai sonhou alto e trabalhou pra conseguir, coisas que nem eu ou meus irmãos imaginavamos ter quando eramos crianças.
E ao mudar da capital pra uma cidade que fica quase que do lado, pra morarmos na casa tao sonhada do meu api, eu pra variar fiquei reclamando.
Acabei por me acostumar e até amar a nova cidade, a nova vida.
Os amigos de BH onde eu morava, ficaram pra trás, e poucos sobraram, vieram centanas de novos amigos em Lagoa Santa, a nova cidade.
Hoje ainda moramos aqui, a vida é boa, eu respiro o verde das árvores todos os dias e não escuto barulho de buzinas ou fico sabendo de sequestro na casa da esquina.
Nossa casa é linda, a cidade é pacífica e eu não trocaria por nada, exceto pelo fato de que as escolas daqui são de ensino medíocre, por causa disso enho que "viajar" todos os dias até a BH, pra estudar na escola que fica lá, que é extremamente exaustivo. Novamente perdi quase todos os amigos das centenas novas que já tinha feito em Lagoa Santa, por falta de tempo, destes só sobraram alguns colegas e poucos a quem posso chamar de amigos.
Com a nova escola em BH, fiz e estou novamente fazendo novos amigos, dos quais agora tomo extremo cuidado para que eu não me apegue de mais. Se há algo de que aprendi nessa historia toda é que nada nem ninguem é para sempre.
Tudo nessa vida é provisório.

Tenho pais e irmãos maravilhosos, com os que eu passo a metade dos dias brigando.
Somos muito felizes e absolutamente nada nos falta, graças ao meu pai.
Sempre enfrentamos qualquer dificuldade juntos.
Acontece que hoje, dia 21 de abril, a primeira coisa que fiz ao acordar neste feriado, foi olhar ao redor do meu quarto, tudo verde (como escolhi de cor preferida para pintar as paredes), uma cama de casal novinha só pra mim, closet e banheiro (também verdes).
Minha irmãsinha Andrea, entrou e ficamos brincando na cama nova, quando minha mãe chegou e pediu pra que eu levasse ela pra nadar na piscina.
Enquanto Andrea foi colocar o biquini, minha mãe disse que tinha algo de importante pra conversar comigo.
"lá vamos nós...", pensei eu procurando algo de errado que provavelmente fiz.
Minha mãe disse que logo acabarão os voos da Gol/Varig para a Europa, meu pai, piloto de avião, foi convidado a voar na China, ganhando bem mais do que ele já ganhava antes.
O único problema seria eu.
O que fazer comigo?
Minha mãe disse que ela e minha irmã terão de acompanhar meu pai aonde quer que ele vá morar.
Meus irmão ja são homens, trabalham e já tem onde morar, provavelmente um deles vá pros EUA no meio deste ano. Aparentemente, nem que eu quisesse, eu poderia morar com eles.
Enquanto a vida lentamente vira de cabeça para baixo, me dou conta de que tenho somene a opção de ir com meus pais pra China (ou aonde quer que seja a base), ou morar com uma das minhas avós em BH.
Eu não vou para o exterior.
Hoje, sem nada definido ainda, se eu tivesse que tomar uma decisão, eu não iria com eles.
Eu tenho que terminar meu ensino medio ainda, e garantir minha faculdade. Planos que eu tenho desde criança e que agora vejo desmoronar só de pensar na possibilidade de de repente se mudar do Brasil.
Eu tenho a opçao de ficar, minha mãe disse que papai iria porque "andar para tras é perda de tempo", devemos andar para frente, sempre.
Pois eu também. Eu estaria voltando kilometros para trás, ao morar em um país em que desconheço a língua totalmente, o ensino, os lugares e as pessoas. Começaria tudo do zero, apesar do que muitas pessoas me disseram que seria o contrário.
Tudo bem que la fora eu posso garantir um futuro melhor, escolas melhores, faculdades e cursos melhores, mas quem é que tem certeza disso?!

E a minha familia? eles vão e eu fico.
Brigamos todo santo dias, eu sei, sempre achei que me mudar pra casa da minha avó em BH seria o melhor porcausa da escola. Mas nunca quis que minha família fosse parar do outro lado do planeta, literalmente.
Enquanto nado com a Andrea começo a chorar inevitavelmente e ela estranha, pedindo pra eu "respirar". Caramba como vou sentir falta dela...
Pergunto se ela iria gostar de se mudar pra China, ela responde: "você ia gostar?" e eu: "não." ela por fim diz: "então eu também não".
Ela só tem 4 anos, então acho que pra ela seria uma maravilha.
Mas mesmo assim...

Choro muito ao pensar no que ainda pode vir, perder o crescimento da minha irmã, as saudades, o carinho e apoio dos meus pais, os principais a quem recorro quando tenho problemas. (este mês sofri um acidente de moto, me machuquei bastante, o que seria de mim se eles não estivessem aqui?)
Eu sei que o que tiver de ser será, e ainda não sei se meu pai aceitará o emprego, ele quer muito, mas ainda temos nós.
Tudo indica que ele vai ter que ir mesmo e parece que se tiver de ser, as mudanças ocorrerão de forma rápida, e ainda neste ano mesmo.
Não escrevo tudo isso porque estou deprimida ou sofrendo antecipadamente, triste eu estou sim, e estou por de mais assustada com a vida.
Ela que muda da água para o vinho, de um dia para o outro.

Novamente o "destino" me prega uma peça, me testando.
Só que desta vez eu paro pensar: pra que nos incomodarmos, ou até mesmo qual o objetivo de levantar da cama todos os dias se é a vida que faz suas proprias escolhas?

Com todas as mudanças que já fiz, e foram muitas, eu sofri bastante. Hoje eu sei que foi com todo esse sofrimento que amadureci. Todas as lágrimas e decepçoes com as pessoas que entraram e saíram da minha vida tiveram um propósito. Cada um tem uma tarefa na vida de alguem, eu mesma devo ter cumprido a minha na de outras vidas também.
Chega uma hora em que amigos tornam-se inúteis.
Hoje sou madura o bastante pra saber que de todas as mudanças que na vida ocorrem, somente as boas lembranças é que devemos guardar.
Sei que chega uma hora que devos abandonar os cuidados do pai e da mãe, mas ainda não sei o que será da minha vida sem eles.
Eles provavelmente nem sabem que eu me sinto assim, mas acho que as coisas são melhores desse jeito, assim, até eles sofrerão menos.

Eu já devia ter me acostumado com mudanças mas não me acostumei.
Tenho boas lembranças de todas essas mudanças, e já nem me lembro mais da época em que eu acreditava que tudo era pra sempre.
Hoje sei que o 'pra sempre', sempre acaba.
"mas nada vai conseguir mudar o que ficou"...